segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A diferença entre poema e poesia

 Às vezes tratamos poema e poesia como sinônimos. Mas se aprendi algo de valioso na faculdade de Letras é a diferença entre poema e poesia. Nessa época, dois professores filosofaram sobre essa diferença, um deles procurando nos instruir sobre algo que ele considerava essencial para a nossa formação e o outro, revoltado, fez um discurso apaixonado contra essa confusão tão comum.

 Não posso lembrar palavra por palavra do que foi dito nessas ocasiões, só tenho o que ficou guardado na minha "memória emocional":

Poemas são palavras. Poesia é sentimento. Poema obedece regras métricas. Poesia é ser livre e transgredir. Você pode ler um poema e não sentir a poesia. O poema está nos livros, a poesia nos romances, músicas, filmes, amores, dores...

No livro,Conceito de Poesia, Pedro Lyra explica que:
"O poema é, de modo mais ou menos consensual, caracterizado como um texto escrito (primordialmente, mas não exclusivamente) em verso. A poesia, por sua vez, é situada de modo problemático em dois grandes grupos conceituais: ora como uma pura e complexa substância imaterial, anterior ao poeta e independente do poema e da linguagem, e que apenas se concretiza em palavras como conteúdo do poema, mediante a atividade humana; ora como a condição dessa indefinida e absorvente atividade humana, o estado em que o indivíduo se coloca na tentativa de captação, apreensão e resgate dessa substância no espaço abstrato das palavras.

Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: o poema, depois de criado, existeper si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe emoutro ser: primariamente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se à percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta (ou não) objetivá-la num poema; terciariamente, no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta. Este é o problema fundamental: se a poesia está no mundo originariamente, antes de estar no poeta ou no poema - e isso pode ser comprovado pela simples constatação popular de que determinados objetos/situações do mundo são "poéticos" - ela tem a sua existência literária decida nesse trânsito do abstrato ao concreto, do mundo para poema, através do poeta, no processo que a conduz do estado de potência ao de objeto. Então, podemos deduzir que a existência primordial da poesia se vincula à daqueles seres que exercem algum influxo sobre o sujeito que entra em contato com eles e o provocam para uma atitude estética de resposta, consumando o trânsito - da percepção à objetivação - mediante uma forma qualquer de linguagem."

A poesia está dentro de nós, é subjetiva, pura sensibilidade. Nos dias de hoje, podemos sentir que esse aspecto da nossa vida está cada vez mais distante. Qual foi a última vez que sentimos "aquela" poesia? Não estou falando da poesia como conceito científico, mas "aquela" poesia, que só nós conhecemos, que faz parte da nossa experiência de leitura e de vida. "Aquela" que ninguém nunca conseguirá experimentar ou entender.

O poema está ao alcance das nossas mãos, mas fazer com que a poesia seja parte de nós é um eterno desafio... Exercite.

Fonte: http://www.autores.com.br

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