Aparício Silva Rillo (Porto Alegre, 8 de agosto de 1931 - 23 de junho de 1995) foi um poeta, folclorista e escritor brasileiro.
Apparicio Silva Rilo se destaca dentro da melhor poesia gauchesca. Original, inventivo, suas imagens se arredondam nas coxilhas e o ritmo é um tropel de vigorosos cavalos.
Apparício Silva Rillo, mesmo não sendo são-borjense de nascimento amou a cidade como poucos. Os versos de Apparício Silva Rillo passeiam pelos quatro cantos do Rio Grande - "O maior poeta que São Borja conheceu".
Rillo nasceu em Porto Alegre no dia 08 de agosto de 1931, foi registrado em Guaíba, cidade onde seus pais moravam e onde passou parte de sua infância.
Estudou em Novo Hamburgo, Ijuí e Porto Alegre, onde se formou Técnico em Contabilidade. Mais tarde cursou Ciências Contábeis e Economia na PUC.
Em 10 de outubro de 1953 (dia do Padroeiro de São Borja - São Francisco de Borja), aos 22 anos, foi morar em Nhu-porã - distrito de São Borja, para trabalhar como contador na Propriedade dos Irmãos Pozzueco.
A partir de 1957 adotou São Borja como sua terra, da qual sempre teve orgulho de falar em seus poemas e músicas.
Dois anos mais tarde, em 1959, escreveu seu primeiro livro de poesias: "Cantigas do Tempo Velho" - versos crioulos.
A partir desse, vieram mais de 40 obras, entre elas poesias, prosa, peças de teatro, novelas, teses, monografias, antologias, além de folclore e história.
Considerado um dos nomes mais importantes na cultura gaúcha, Rillo registrou grande parte da história de São Borja; criou festivais e CTGs, deixando sua marca no contexto cultural, artístico e histórico de nossa cidade, da 3ª RT e de todo o Rio Grande do Sul.
Foi membro da Academia Rio-grandense de Letras e da Academia da Estância da Poesia Crioula.
Foi premiado em concursos de nível regional, nacional e até internacional (na Alemanha com o conto "Bicho Tutu").
Em 1962, fundou o Grupo Amador de Arte "Os Angüeras", o mais antigo em atividade no Rio Grande do Sul. Em 1979 junto à sede do Grupo organizou o Museu Ergológico da Estância, que na linha folclórica um dos únicos do Brasil.
Foi um dos maiores letristas da história da música do Rio Grande do Sul, por esse motivo, falar de Apparício Silva Rillo sem fazer referência aos Festivais Nativistas é impossível.
Em 1971, escreveu "Andarengo", com música de José Bicca (considerado seu irmão de arte); esta foi a primeira música a subir ao palco da 1ª Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, sabidamente o mais antigo Festival Nativista do Estado. Daí o seu pioneirismo. Meses mais tarde, idealizou o Festival da Barranca. Criou também o Clarim, extinto festival de músicas regionalistas.
Rillo é o autor dos Hinos de São Borja, Cerro Largo e Santa Rosa.
Apparício foi um homem a frente do seu tempo, soube colocar nas suas narrativas, usando o ficcional como cortina, fatores de ordem histórico-sociais e econômicos, seus temas também eram alicerçados nesses fatores.
Era dono de uma inteligência e sensibilidade privilegiadas.
Homem de bom coração, Rillo era amigo dos amigos. Tinha a "mania" salutar de dar forças a todos os que o cercavam, incentivou o aparecimento de vários poetas e compositores, como: José Hilário Retamozo, José e Miguel Bicca, Mano Lima e um de seus mais fiéis discípulos Rodrigo Bauer.
Em maio de 1991, escreveu "Poço de Balde", o seu último livro de poemas. Obra estranhamente premonitória, de remate, que exigiu do artista maduro um de seus maiores esforços.
Afinal, no limiar dos sessenta anos, detentor de um lugar definido e um nome consagrado, multiplicou-se a responsabilidade em razão da expectativa em torno dessa nova obra - um momento de perplexidade em que o autor sentiu, e anunciou, empreender o seu "rito de passagem".
E na manhã do dia 23 de junho de 1995 (na véspera de São João) Apparício Silva Rillo aos 63 anos deixou um pouco mais órfãos a cidade e o Rio Grande do Sul.
"Seu Rillo", como era carinhosamente chamado foi e continua sendo reconhecido e aplaudido por todos, deixou-nos um imensurável trabalho que ficará gravado nas páginas da história rio-grandense.
Romance do injustiçado (Aparicio Silva Rillo)
Como talhado em pau-ferro,
o carão de traços duros,
o bigodão mal cuidado
desabando sobre os lábios;
par de asas mui cansadas
de um avejão de cor negra.
Melena de muitos meses,
sobrando por sobre a gola
e o colorado de um lenço,
sangrando em riba do peito.
A bombacha de dois panos,
remangada sobre a bota.
Os cravos da espora grande
mordendo a franja do pala,
bem atirado pra trás.
No fivelão da guaiaca,
luzindo em campo de prata,
o louro das iniciais.
Sobrando da faixa negra
que lhe abarcava a cintura,
o cabo entalhado em chifre
da xerenga de dois palmos.
Um relho, trança de oito,
vinha arrastando a açoiteira
dependurado no pulso
pelo tento do fiel.
Pela rédea, o azulego,
se via que flor de flete
malgrado a estampa judiada
de pingo que muito andou.
Foi assim que há muitos anos
bateu nas casas da estância
o celebrado bandido
chamado “Estácio Arijo”.
Bandido
para a justiça,
por seu respeito se explique,
que as razões de um índio macho
nem sempre são bem aceitas
pelos códigos e leis.
Bandido
por ter sangrado,
igual de raiva e de armas
a um cujo que desonrara
a mais moça das irmãs.
Bandido,
porque apertado
entre as brigadas e a enchente,
já não podendo escapar
por debaixo da fumaça,
matou um dos quatro praças
que lo quiseram carnear.
Bandido,
porque seguido
por milicadas sequiosas
de uma vingança total,
fugiu da estrada real
para o mais fundo dos matos,
carneando chibos alheios
para o churrasco sem sal.
Bandido,
porque enleado
na rudez da ignorância,
fez da fuga e da distância
seu modo de mal viver;
porque quis a sina ingrata,
que nunca tivesse plata
para pagar um bacharel.
Bandido,
porque não teve,
a exemplo de tanta gente,
cancha livre, costas quentes,
à sombra de um coronel.
E assim viveu como bicho,
pelos fundões das fazendas,
a carregar a legenda
de perigoso e assassino,
ximbo, bagual, teatino,
com fama de touro alçado,
tragando o duro guisado
que lhe picava o destino.
N’algum bolicho de estrada
boleava a perna cestroso,
pelos domingos de tarde.
Para um cantil de cachaça,
meio quilo de bolacha
mais um punhado de sal.
Olhava de olhos compridos
para o mais das prateleiras,
pra um bom fumo amarelinho,
pros maços de palha buena,
para a erva de palmeira,
num saco sobre o balcão.
Mas vinha curto seu cobre,
mal e mal traz precisão;
o bolicheiro era pobre,
e ele não era ladrão.
E a polícia no seu rastro,
malgrado o tempo passado,
perseguido e acuado
por plainos e socavões,
sempre mudando de pouso
pra confundir os milicos,
que em manhas sim, era rico,
por evidentes razões.
Cansou-se um dia, afinal,
daquela vida de bicho,
daquele estranho cambicho
com as más volteadas da sorte,
de não ter rumo nem norte,
não ter descanso ou sossego.
E assim bateu cá na estância,
naquele entono de taita
que manda parar a gaita
por ter cansado do baile.
E ao patrão, velho Boerana,
pediu Estácio Arijo
que mandasse algum chirú
levar ao povo um recado:
que viesse o delegado,
que ele afinal resolvera:
ele, o bandido; ele, o maula,
trocar o largo dos campos
pelo encolhido das jaulas.
Nas suas noites de insônia,
entre um pelego e as estrelas,
conseguira convencer-se
que, sendo justa, a justiça
lhe entenderia as razões
e lhe daria, a lo muito,
poucos anos de condena
ou mesmo absolvição.
Foi então, que a meia tarde,
num fordecão atochado,
deu na estância o delegado
com quatro praças por quebra
para formar o sarilho:
quatro fuzis embalados,
quatro dedos no gatilho.
Então ... Estácio Arijo
tomou seu último mate,
no mesmo entono de guapo
que era seu jeito de sempre,
arrastou a espora grande
na direção dos milicos.
- Nem mais um passo!
gritou-lhe num gritinho de falsete,
o delegado, um joguete
nas mãos do chefe local.
- Levante as mãos!
- Largue as armas!
- Esteje preso, seu bandido,
seu metedor de pendenga!
E o Arijo, decidido
a entregar-se sem briga,
levou a mão à barriga
para descartar a xerenga.
- Cuidado! Berrou um praça.
Tremeram cinco covardes;
e na calma desta tarde
berraram quatro fuzis,
quatro sóis de fumo e sangue
se lhe acenderam no peito.
Foi desabando aos pouquitos
de frente para os milicos,
no jeito de um velho angico
caído junto às macegas
que lhe envejavam o entono.
E já quase adormecendo
para o derradeiro sono,
quatro vezes mal ferido,
teve ainda tino e ouvido
para escutar um dos cinco
que lhe gritava:
- Bandido!
Caiu ...
olhando pro céu,
tinto de sangue e de luz.
Dava-lhe o sol pela frente,
como a incendiar-lhe a figura,
a mais rica das molduras
para enquadrar um valente !
Parabéns, um post interessantíssimo, gostei de conhecer esse maravilhoso poeta gaúcho.
ResponderExcluirTenha um ótimo dia.
Anajá
Passei minha ouvindo, seus poemas sendo declamados nos cgt"s. Sem dúvida um dos melhores que o Estado já teve!!
ResponderExcluirMuito bom. Vou decora-lo para recitar nos momentos de solidão.
ResponderExcluirVale a pena decora-lo.
ResponderExcluirLindo, como ele coloca todos os costumes e linguajar da Campanha de uma forma linda e singular, amo!
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