Há 15 anos, no dia 14 de Maio de 1998, calou a voz de um dos maiores cantores que o nativismo conheceu, César Escoto, o César Passarinho, Nascido em Uruguaiana em 21 de Março de 1949, muito cedo ganhou o mundo através da música. Sua vida, sua história, sua trajetória, faz parte do alma do musiqueiro, do guitarreiro e do versejador. Vencedor de inúmeros festivais, com sua voz marcante, deixou um legado de belas obras musicais, que ainda vive e revive na voz de crianças, moços, mocitos, adultos, velhos, pois fez e ainda faz parte da geração da boa música Rio grandense.
Veja o que escreveu o Jornal Zero Hora no dia 15 de Maio de 1998, ante a dor da perda desse paisano.
Uma voz livre como um passarinho
César Passarinho, o cantor símbolo da Califórnia da Canção, morreu ontem, em Caxias do Sul, vítima de câncer
MARCELO MACHADO
Especial/ZH
A boina branca e a expressividade dos gestos eram marcas do cantor (foto Banco de Dados/ZH)
Uma boina e um colete branco. Em cima do ombro, um pala. Nos pés, uma alpargata ou um par de botas combinando com a cor do lenço. César Passarinho, 49 anos, era o músico da pilcha. O intérprete de Guri e Negro da Gaita. O cantor símbolo da Califórnia. Um homem quieto. De poucas palavras. Um muxoxo e não precisava mais que isso. No palco, ele se soltava. As mãos voavam como a reger uma sinfonia de um único cantor. César Passarinho morreu às 12h48min de ontem, no Hospital Saúde, em Caxias do Sul. O cantor estava internado havia 43 dias tratando de um câncer no pulmão direito.
O apelido Passarinho é uma referência ao pai, que tinha a alcunha de gurrião (pardal). O filho do pássaro se transformou em passarinho. O músico das milongas começou a carreira musical tocando nos bailes de Uruguaiana. O Grêmio Tiradentes, o Clube Caixeral e o Clube Comercial eram animados por conjuntos que tocavam música popular brasileira. César Passarinho se destacou, entre outros, no Conjunto Hi-Fi. O mais inusitado de tudo era o seu instrumento. Além de cantor, Passarinho era baterista. Foi com a 3ª Califórnia, em 1973, que ele descobriu a música regionalista com a apresentação da composição Último Grito. César Passarinho sempre foi um homem da noite. Um boêmio. Era comum encontrá-lo no Corinthians ou no Bar do Cid – lugares em que ele se reunia com os amigos, em Uruguaiana. Durante a década de 70, a bebida afastou-o diversas vezes dos palcos.
Califórnia e César Passarinho são sinônimos. O festival e o músico começaram juntos. O cantor uruguaianense acabou se transformando na marca registrada do festival de música nativista. Com quatro Calhandras de Ouro – troféu máximo da Califórnia – e a conquista de sete prêmios de melhor intérprete, Passarinho foi o mais destacado dos vencedores do festival. Em 1983, com Guri, o pássaro-cantor voou mais alto do que se poderia imaginar. A canção subiu ao palco da Califórnia com nomes como Neto Fagundes e Renato Borghetti. César Passarinho ensaiou a música um dia antes da interpretação. Foi ali que veio a redenção. Naquele ano, o músico se afastou das bebidas e passou a se dedicar à música.
César Passarinho será lembrado como um artista que gostava de cantar o romantismo e as coisas do campo. Com a sua morte, a geração Califórnia ficou órfã. O Rio Grande gaúcho está de luto. A calhandra, pássaro de canto doce, que só canta quando está livre, nunca mais será entregue a um César que voava até no nome. Guri (João Machado da Silva e Júlio Machado da Silva Filho) se encerra com os versos “E se Deus não achar muito / Tanta coisa que pedi / Não deixe que eu me separe / Deste rancho onde nasci / Nem me desperte tão cedo / Do meu sonho de guri / E de lambuja permita / Que eu nunca saia daqui”. Passarinho foi sempre assim. Um guri que cantava. Um músico que continuará representando com sua voz o canto e a tradição do Rio Grande do Sul.
César Passarinho será enterrado às 14h de hoje no Cemitério São Luís da Sexta Légua, em Caxias do Sul. O corpo será velado na Capela São Francisco.
UMA VIDA EM 13 DATAS
1949 - César Escoto nasce no dia 21 de março de 1949, em Uruguaiana.
1976 - Calhandra de Ouro por Um Canto para o Dia (com participação da cantora Oristela Alves), música de Ernani Amaro de Oliveira.
1977 - Calhandra de Ouro por Negro da Gaita (música de Gilberto Carvalho e Airton Pimentel). Esta música lançou César Passarinho futuro cantor símbolo da Califórnia.
1983 - Calhandra de Ouro por Guri (música de João Batista Machado e Júlio Machado), um dos clássicos do regionalismo gaúcho.
1983 - Primeiro disco da carreira, Fundamento, pela Gravadora Polygram.
1986 - Nasce César, único filho de César Passarinho.
1988 - Lançamento do disco Negro de 35, primeiro álbum pela Gravadora Acit.
1991 - Lançamento do disco Assim no Más.
1992 - Calhandra de Ouro por O Minuano e o Poeta (com participação da cantora Carmem Letícia), música de Lauro Corrêa Simões e Clóvis de Souza.
1993 - Lançamento do disco César Passarinho - 18 Grandes Sucessos.
1995 - Lançamento do disco De Alma Leve.
1996 - Lançamento do disco Milongueando essas Lembranças Tuas.
1998 - César Passarinho morre em Caxias do Sul.
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